A insônia é um mal que atinge aproximadamente 70% da população brasileira, de acordo com pes- quisas recentes. Com a pandemia, o problema se agravou e, diante desse cenário, não é de se admi-
rar que cada vez mais pessoas recorram às prateleiras das farmácias para tentar dormir bem.
A melatonina, conhecida como o hormônio do sono, é uma das opções mais buscadas para resolver o problema, sobretudo por quem quer evitar medicamentos contro- lados, que podem causar dependência. Desde o início de dezembro, ela pode ser adquirida nas farmácias de todo o Brasil, em gotas ou comprimidos, sem a necessidade de prescrição médica, facilitando a vida de muitos consumi- dores que, até então, compravam o produto no exterior ou apenas ficavam na expectativa de ter acesso a ele.
A liberação dada pela Agência Nacional de Vigilância Sa- nitária (Anvisa), embora siga exemplo de outros países da América do Norte e da Europa, é uma preocupação a mais para a comunidade médica, já que o consumo do suple- mento sem orientação pode trazer prejuízos à saúde.
A médica neurologista Mariana Almeida Vidal, do Hospi- tal Beneficência Portuguesa, explica que a melatonina é um neurohormônio produzido no cérebro pela glândula pineal, cuja principal função é regular o ritmo circadiano (vigília-sono), atuando também em diversas funções no metabolismo energético e sistema cardiovascular. Assim como qualquer suplemento alimentar ou medicamento, não deve ser utilizada sem a indicação médica.
Ela esclarece que a melatonina é indicada no tratamen- to de determinados distúrbios do sono, por exemplo, o que acomete idosos ou decorrentes do jat leg (mudança de fuso horário). Também é utilizada como coadjuvante terapêutica em casos de transtorno do espectro autista e síndrome de déficit de atenção e hiperatividade. “Mas, devido às propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e imunomoduladoras, estudos em andamento avaliam a eficácia de seu uso em doenças neurodegenerativas, metabólicas e inflamatórias, porém, sem resultados conclusivos até o momento”, completa.
Muitas pesquisas estão em andamento e outros benefícios já foram apontados. No entanto, a fase ainda é de estudos.
A IMPORTÂNCIA DO SONO NOTURNO
A endocrinologista e professora do curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic, Marcia Scolfaro Carvalho, explica que a melatonina é produzida a partir do triptofano, o mesmo aminoácido que produz a serotonina, e que está presente em alguns alimentos como queijo, ovo, abacate e frutas secas. Segundo ela, a produção desse hormônio pelo organismo é diária e rítmica, obedece ao
ciclo dia-noite e é sincronizada à iluminação ambiental, o que significa que a luz noturna bloqueia ‘esse trabalho’. “É necessário manter uma alimentação rica nestes substratos e não trocar o dia pela noite. O sono noturno é essencial”, orienta.
Como não existe dosagem de melatonina no sangue, não é possível fazer um exame para saber quem tem deficiência do hormônio. “A fragmentação do sono, a dificuldade para dormir e dessincronização entre o ciclo sono-vigília e dia-noite é que nos apontam para uma deficiência de melatonina”, diz.
Efeitos adversos mais comuns da melatonina
Não há dúvidas de que esse hormônio seja um importante aliado para se ter noites de descanso e uma alternativa mais segura em relação aos medicamentos utilizados nos distúrbios do sono, como benzodiazepínicos, antipsicóticos e anticonvulsivantes. Mas, como lembra Marcia, é fundamental respeitar as indicações e dosagens, bem como fazer o acompanhamento médico de forma adequada,
garantindo a manutenção das propriedades da substância. A facilidade atual para comprar o suplemento não deve camuflar possíveis riscos de uma utilização equivocada. “O uso em horários e quantidade inadequados, diferente do necessário para o organismo, pode gerar uma série de efeitos colaterais e alterações metabólicas sérias”, alerta Mariana. (Veja quadro acima).
Fonte: Dra. Mariana Almeida Vidal, neurologista do Hospital Beneficência Portuguesa
Revista Metrópole, Edição 877 – Campinas 16 de Janeiro de 2022
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